domingo, 3 de novembro de 2013

TODO SONHO TEM INTRPRETAÇAO?


 

Como posso saber se os sonhos estão me dizendo alguma coisa da parte de Deus?

(Priscila Olímpio, Rio de Janeiro – RJ)

 

Osiel Gomes

 

Compreender os sonhos tem sido uma ação constante do homem, durante toda a sua existência. Historicamente, isso pode ser provado na vida de muitos povos. Por exemplo, para os judeus os sonhos serviam como uma revelação divina, mas de três maneiras eles faziam suas intepretações acerca dos sonhos: Primeiro, eles diziam que os sonhos poderiam ser interpretados espiritualmente, como revelação direta de Deus, segundo, afirmavam que os sonhos poderiam ser apenas reflexões normais da vida cotidiana, servindo como uma mensagem para melhorar alguns aspectos da vida, tanto física como material, e me terceiro, afirmavam que os sonhos poderiam ser vistos apenas como um tipo de aviso.

O filosofo Bérgon acreditava que os sonhos tinham ligação direta com os sentidos e a memória, fazendo assim uma ligação entre ambos. Sigmund Freud afirmava que os sonhos eram apenas a realização de algum desejo, que servia como um meio para livarar o homem de energias negativas. Para os fisiologistas os sonhos são apenas rações dos estímulos externos. Muitas dessas definições têm ligação com o que dizia o rei Salomão:

“Porque da muitas ocupação vêm os sonhos...” (Ec 5.3).

Nessa polissemia, quanto à questão da definição precisa dos sonhos, existem aqueles que veem os sonhos apenas como um reprocessamento mental de coisas que já aconteceram, outros, como no caso de Jung, dizia que os sonhos eram mensagens simbólicas, e através dessas mensagens poderia se buscar o equilíbrio para algumas áreas da vida. É nesse prisma que os sonhos são avaliados como solucionadores de problemas, daí a razão para muitos buscarem as interpretações dos mesmos.

Diante de tudo o que está sendo exposto, podemos fazer a seguinte indagação: até onde podemos considerar os sonhos como revelação direta de Deus para nós? Primeiro é preciso que analisemos as Escrituras, porque tanto no Velho como no Novo Testamento os sonhos não são apenas reprocessamentos mentais, reflexões da vida cotidiana, mas a maioria deles estão ali registrados como revelações direta de Deus para expressar a sua vontade (Gn 28.12; 37.5; Dn 1.7; 2.1). O mesmo acontece nas páginas áureas do Novo Testamento, os sonhos que José, os magos e a mulher de Pilatos tiveram, (Mt 1.20; 2.2-13; 27.10) não foram apenas sonhos fisiológicos ou reprocessamento mental das coisas que aconteceram, nesses sonhos estava expresso a vontade de Deus, como também o aspecto profético.

Os profetas do Velho Testamento tinham consciência que muitos sonhos não passavam apenas de reflexos vazios, coisa sem sentido, (Ec 5.7), e também sabiam que para a formação moral espiritual do povo o que deveria ser pregado era a Palavra do Senhor, pois, nem sonhos, nem visões estavam no mesmo nível dela, é isso o que diz o profeta Jeremias, (Jr 23.28).

Os sonhos podem ser considerados como uma revelação divina, quando eles trazem uma mensagem de iluminação sobre algum tipo problema, fala sobre alguma necessidade espiritual ou dá algum tipo de instrução moral. Mas o cristão sabe que a sua vida não pode ser dirigida por sonhos, visto que a Bíblia mostra que não são os sonhos que devem nos ensinar, mas sim a Palavra de Deus, é Ela que é útil e proveitosa para tudo, para nos tornar perfeitos para toda boa obra, como também a mais perfeita revelação de Deus ao homem (2 Tm 3.16-17; Hb 4.12).

 

Osiel Gomes é vice-líder da Assembleia de Deus em Coroatá (MA) e professor de Teologia.   

Jornal Mensageiro da Paz de Julho de 2012, Pág. 17.

         

 

    

sábado, 2 de novembro de 2013

QUE SINAL DEUS PÔS EM CAIM?

 
“Gênesis 4.15 diz que Deus pôs ‘sinal em Caim para que não o ferisse qualquer que o achasse’. Que sinal é esse?”
(Geú Alves de Oliveira, Maceió, AL)
 
Esdras Costa Bentho
 
Caim, esse enigmático! Os mistérios rondam a figura controversa do personagem. Por que o sacrifício oferecido não agradou a Javé? Qual o sinal de Caim? Afinal, quem era a mulher com quem se casou? Da exegese histórico-crítica à fundamentalista, todos tentam decifrar, sem sucesso, os segredos que pairam sobre sua figura cripta. Até mesmo Saramago, ganhador de vários prêmios literários, entre eles, o Nobel de Literatura (1998), ensaiou uma resposta mordaz ao dilema cainita no livro “Cain”. É impossível ler Gênesis 4 e ficar indiferente às nuanças do relato. Apesar da dificuldade em responder objetivamente a pergunta-chave, é possível uma aproximação com os elementos fundantes do texto? Acredito que sim, embora a resposta talvez não dilua todas as incertezas.
Suponho que o leitor já conheça a narrativa bíblica a respeito do fratricídio e sabe que o “sinal” foi para proteger Caim em vez de condená-lo (v.15). o sinal, no hebraico ‘ôth (semeion na LXX), é usado no Antigo Testamento mais frequentemente como um termo teológico para descrever “sinais pactuais”, como os concertos noético ((Gn 9.12-17) e abraâmico (Gn 17.11), ou “sinais milagrosos”, como as pragas (Êx 4.8). nalgumas vezes possui sentido comum (Gn 1.14; Nm 2.2), mas seu uso predominante é teológico. O “sinal de proteção" continuará como tema recorrente na Escritura, como por exemplo: (a) o sangue nos umbrais das portas (Êx 12.13); (b) à marca na testa (Ez 9.4); e (c) o selo na testa dos 144.000 (Ap 7.3). na Antiguidade o sinal/selo sobre alguém ou objeto designava a coisa selada como propriedade de alguém e, portanto, intocável por outros (Ct 4.12; 8.6; Dn 6.18; 12.4; Ef 1.13). Assim, o sinal de Javé expressa propriedade, proteção e segurança contra assassinato.
Assente o conceito teológico de ‘ôth, sinal, passemos para sua interpretação concreta. O que era o sinal? Na história da interpretação da perícope, diversas posições foram adotadas. Comecemos pelo o livro apócrifo “O Primeiro Livro de Adão e Eva”. No capítulo 79.18-25 diz que o sinal era tremer e sacudir initerruptamente. Em suma, outras posições adotadas por diversas escolas foram: cor negra, tatuagem e alguma forma de sinal sobre Caim.
Não é necessário perder tempo com a primeira posição, visto que a origem da cor negra segundo o literato estaria ligada aos descendentes de Noé. A segunda seria um tipo de marca na testa de Caim que o identificaria como protegido por Javé e ao mesmo tempo traria sobre si a ignomínia e a culpa de seu pecado. A Bíblia nunca disse que o sinal estava sobre a testa de Caim, mas pelo fato de a marca aparecer noutros contextos na fronte dos protegidos de Javé, imediatamente relacionaram o sinal cainita a esta parte. O terceiro procede de uma possível releitura do v.15. Enquanto as versões costumam traduzir “e pôs...um sinal” esta escola traduz “apontou...um sinal” e outra “estabeleceu um sinal”. O sinal não estaria em Caim, mas sobre ele, como no caso do arco, após o dilúvio, em 9.12. Deus apontou alguma espécie de sinal para Caim em vez de marca-lo. A pergunta ainda continua aberta!                
 
Esdras Costa Bentho é pastor, teólogo, pedagogo, professor na FAECAD, mestrando em Teologia pela PUC-RJ e autor dos livros Hermenêutica Fácil e Descomplicada, A Família no Antigo Testamento e Igreja Identidade e Símbolo, editados pela CPAD.    
Jornal Mensageiro da Paz de Dezembro de 2012, Pág. 17.